Eu tenho medo. Perder a paz, perder o refúgio, perder a segurança, perder a merda do chão que eu já nem sinto mas por debaixo das solas de meus pés. Por pouco não perco a sanidade, ou eu já estou tão demente que nem percebi que ela se foi há tempos. Esta foi a última vez que me entrego assim. Não irei mais abrir meu peito para facadas, não irei entrar na frente para levar o tiro por outra pessoa. Vejam bem, a culpa não é minha. Pela primeira vez, eu sou inocente. Apesar disso, já sinto o gosto do conformismo invadindo meu paladar, o cheiro da perda, da auto-flagelação, sinto o peso da culpa que não possuo, eu já sinto a morte lenta invadir o que eu chamaria de corpo, se eu conseguisse reconhecê-lo. Que sensação doente. É isso que eu sou, uma doente. Digno de pena. E assim, as pessoas me vêem, com pena. Mais um na sarjeta, mais uma criança sofrendo, mais uma garota morrendo internamente. A faísca vai se apagando aos poucos, meus olhos perdem o brilho, meu coração bate devagar, quase parando. Perco a cor da pele, meu sangue se seca, meu rosto perde as expressões. O elo mais fraco, o ego destruído. Repugnância, descaso, indiferença. Diversão. Apenas um entretenimento. O disco não toca outra faixa, e a frase se repete "você é uma idiota", a voz da minha consciência gravada num estúdio, o disco riscou e a frase continua à ser cantada "você é uma idiota". Certo, eu já sei disso, mas e agora? Faixa 2. "Você continua sendo uma idiota". Obrigada, consciência. "Você é uma mentirosa, cínica, manipuladora e eu tenho nojo de você", "Eu apenas gostaria de saber. Porque todo mundo te chama de cínica", ah, doces lembranças. Sendo novas ou velhas. Talvez eles estejam certos, eu só não abro meus olhos pra isso. Há tanto do que me recordar. Prazer, meu nome é filho da puta. E o seu, qual é? "Otário". Por que as coisas se inverteram? Por que agora EU preciso falar que meu nome é Otária? Digno de piedade. Uma última frase: "Piedade eu tenho é de você, que nunca soube e jamais saberá o que quer. Viverá eternamente perdido em suas incertezas e suposições. Só espero que um dia, o certo venha de encontro com você, e o esmigalhe como fez comigo". Pronto, está aí a prova de que uma maldição jorrada em mim se tornou a mais pura das realidades. Vamos lá, dêem risadas, gargalhem da desgraça em que eu me encontro. Saibam que são essas humilhações orais que nos fortalecem, nos mudam. Você sabe o que é raiva? Sabe o que é ódio? Sabe o que é rancor? Você sabe o que é medo? Então sabe que tipo de monstro nos tornamos quando tudo isso se aglomera em um único coração. Se você não sabe, chegue mais perto, você vai descobrir.
Uma última declaração: Fodeu.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
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