segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Moldei minhas sensações, adaptando-as ao clima e pude correr na orla de casa, com meias nos pés, com os pés no céu, com o céu abaixo de Deus, com um Deus tão inexistente.
Contei quantos dígitos o número do seu telefone tem, são oito números inteiros, ou quatro dezenas, ou umas dezenas de palavras estranhas.
Reparei nos seus olhos, são dois ‘nadas’ com cílios, cílios cromo, cílios cinza.
São três ou quatro músicas boas, são vinte e quatro dias por dia ou sessenta dias por hora. São vários clichês em qualquer hora, ou várias horas existindo dentro de um clichê.
São seus braços encostando nos meus, ou suas mãos arrancando minha pele. Sua voz em um sussurro leve no pé do meu ouvido ou um barulho loucamente ensurdecedor.
Rezo; só não sei pra quem rezo. Peço; mas não é só para mim que peço.

Ocupe essa seção. Faça minha caixa torácica pulsar e sentir que existe um ser desconhecido vivendo. Eu sei que só sou isso, que não me agrada ser o máximo, que não posso ficar maximizada. Que os meus momentos íntimos são meus e só meus, meu e de minha carne, encharcada por conceitos gordurosos.
Agora são dois pés correndo na estrada, com duas mãos no mesmo ritmo, com lábios ressecados e seus olhos fechados viciando os meus. É uma estrada de chão preto, com pés sobre ela, e abaixo dela um inferno, ou um céu. E nesse céu-infernal uma claridade que transparece dez por cento de mim, me fazendo ser entregue ao céu, me fazendo ser entregue ao nada, ou à fé ou à desilusão.
Caí pela verdade e de nada adiantaram as pequenas mentiras, nem as grandes mentiras, nem mentira nenhuma. E de nada também me adiantou a verdade omitida, e de nada me adiantou ser não-notável. E de tudo eu queria ser muito e no muito eu me perdia, me perdia por ser nada e querer tudo ou o quase tudo, tendo o quase nada ou o nada. E de nada adianta essa antítese.
Os pensamentos agora são no comando automático, eles me vem tão fáceis que não tenho mais em que pensar, não penso mais, logo, desisto. Sub-existo.

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