segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sentada espero

Sentada espero. Cai a noite, a lua escondida, a tediosa excitação da cidade. Olho pela janela, prédios desiguais. Meu olhar segue fixo em direção ao que chamam de limite. Nada sinto. Não sei se está frio, ou se está escuro. Nuvens cinzentas devoram o céu tão lentamente quanto uma planta carnívora digeriria uma mosca, prolongando minha ansiosidade, testando-me a paciência. Meu olhar não desvia. E sentada espero.

Lágrimas escorrem por minha face inexpressiva, embaçando meus atentos olhos, irritando-me. Minhas mãos as enxugam já por reflexo. Ou por estarem acostumadas. Em algum lugar, alguém ri, sem receios, sem hesitação. A enchurrada volta, teimosa, mas não ouso piscar.
- Genevieve? Aí de novo? Ah, Gen, por favor não se torture assim. Vai acabar enlouquecendo. - Não desvio minha atenção ao responder, apressada
- Ela disse que viria.
- Ela está morta. - Meu coração faz aquela coisa estranha que ele gosta de fazer quando usam essa palavra. Não sei o que é, mas é a mesma sensação de enfiarem todas as agulhas do mundo lentamente em meus pontos não vitais, propósito, até que eu implore para morrer. Ignoro isso. Nada me distrai agora.
- Sim. Mas ela prometeu não me deixar. Eu não sairei daqui.
- Genevieve, já se passaram dois anos. Pare de se iludir, ela se foi. Quando irá se convencer disso? - Aconteceu de novo. Só que dessa vez eram punhais. Virei meus olhos encharcados em sua direção, com ódio.
- Nunca. Pois no dia em que minhas esperanças morrerem, morrerei com elas. Ela nunca me enganou, nunca mentiu para mim. Por favor, Margareth, não tire isso de mim. Não me mate, não quando sei que não vou hesitar em entregar-lhe a arma com um sorriso. - Ela baixou os olhos, ao mesmo tempo em que os meus voltaram a vasculhar o infinito. A lua saíra, mas ela não estava lá. Então sumiu, deixando-me na companhia de minha agonia. Ela não viera hoje. Mas, amanhã, eu estaria ali. Sentada, esperando.

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