segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sinestesias.

Não lhes parece engraçado, as sinestesias?- Sinestesia é quando há uma junção de sentidos - Olfato e paladar, paladar e tato, tato e audição, audição e olfato... Quando eles se confundem e no uso de um sentido, acabamos por nos deparar com outros! Mas não coisas óbvias como falar a palavra céu e lembrar de azul, falar telhado e imaginá-lo vermelho, falar algo no aumentativo e já imaginá-lo grande ou ouvir a palavra mar e junto com ela ouvir seu estrondo quebrando na areia, vir a tona o cheiro da brisa (ou de protetor solar!).

Não, assim não vale! É obvio demais!
Sinestesia, sinestesia mesmo, vem sem sentido, nem regra. Os números por exemplo. Para mim, até o 9 cada número tem uma cor bem definida. Azul é a cor do um, dois é verde, três amarelo, quatro vermelho, cinco azul mais escuro, seis alaranjado, sete amarelo novamente, o oito tem uma cor escura e nove é azul novamente. A partir daí são todos pretos, pois misturam duas cores. Sempre foi assim.
Em tantas outras palavras ocorre o mesmo efeito, como desanuvio, uma das minhas preferidas; que me lembra uma grossa camada de neblina que se estende pelo carpete, ou traz a alusão de uma gota escorregando vagarosamente, anos e anos a fio, pelo vidro do carro após a chuva.

Veríssimo disse certa vez que existem também as palavras que voam! Sílfide por exemplo! É só pronunciar a palavra "sílfide" corretamente que logo se imagina suas evoluções no ar após sair da boca, indo com o vento e sumindo faceira. As vezes juro escutar o risinho da sílfide voadora zombando de minha sinestesia, que claro, não tem nada a ver com seu significado, que simplesmente é o feminino de "Silfo". Silfo é o ser mitológico das águas, leve, lânguido, diáfano. Mas não voa! A Palavra Silfo não voa! Pode ver! Silfo. Silfo. No máximo é uma cusparada ( Opa! Cuidado com a camisa! ) Ao contrário de sua mulher a sílfide, que voa demorada da boca como uma borboleta! Vejam vocês, a própria palavra "borboleta" não voa. Pode até capengar um pouco pelo ar ao sair da boca, com uma asa quebrada. Borboleta. Um pouco pra esquerda, agora pra direita e pronto! Despenca amassada no chão, anteninhas balançando, terminei de falar.

Há também as palavras ruins de se dizer, como "seborréia"! Ou desce intragável ardendo a garganta ou escorre pelo canto da boca. Seborréia! Também tem a dupla "bigorna" e "tijolo" que mau saem da boca, caem pesadas em meus pés! Algumas mais esdrúxulas como a palavra "esdrúxula" me remetem coisas ruins, talvez pela falta de freqüência com que são usadas, talvez por arte da sinestesia que sempre me faz lembrar do coaxar de sapos mergulhando nas sujas lagoas.

Tem também trilhão, quatrilhão, quinquilão. Chega! Vou parar por aqui pois estas são palavras que doem nossas entranhas para sair! Credo. Dito isso Tchau!
E tchau você sabe. É pronunciada como um chiclete-balão, num segundo explode na nossa cara!

Inspirado na crônica "Pudor" de Luis Fernando Veríssimo.

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