Apoiei minhas mãos na pia de mármore branco, ambas tremendo, eu estava fraco e minha visão, completamente distorcida. Minhas pernas cambaleavam quando eu tentava andar, e o chão parecia se mover por debaixo de meus pés. Liguei a torneira e fechei o ralo, deixei com que a água se acumulasse no pequeno vaso e então, mesmo no frio, mergulhei meu rosto. E assim permaneci, até sentir que meu pulmão precisava de ar, antes que eu desmaiasse. Me arrependi de ter tirado o rosto dali, eu deveria ter desmaiado mesmo. Qualquer coisa que me deixasse inconsciente, durante o mínimo tempo que fosse, seria bom, bom pra mim. De qualquer forma; nem fiz questão de me secar, meus cabelos pingando e meu rosto encharcado, nada me incomodava mais que a agonia de saber que eu não poderia fazer nada à respeito de meus desejos, de minhas vontades. Que eu não poderia matar minhas saudades sempre que eu quisesse. Tudo teria de ser, na surdina, no silêncio, no segredo.
Ser secreto. Eu aceitei mesmo essas condições? Não tenho chance de reclamar e nem quero, não posso. O mais difícil eu já superei, o mais difícil eu já consegui. Eu não galguei em absolutamente nada, apesar de tudo isso. Ainda sinto algo me incomodando aqui dentro, algo me cutucando. E aí, me vem outro pensamento, que de fato, eu sei que irá entrar na mente dele também. Eu conseguiria vê-lo com outra pessoa? Imaginá-lo tocando à outra quando era à mim que devia tocar? Me sento em meu sofá de couro, que era para ser marrom, mas ficou amarelado com muito tempo de uso; se é que você me entende. Depravada, cale essa boca. Retomando... Me sentei, pousei meu cotovelo sob o braço do velho sofá, e apoiei meu queixo em minha mão, meu indicador passando por meus lábios e meus pensamentos longe, bem longe de onde eu, corporalmente, estava. Os lábios dele começam à tocar a pele da garota, na região dos pescoço, ele espalha mordidas, ela solta breves gemidos, enquanto puxa os cabelos negros dele, que tanto me faziam delirar, o simples cheiro das lisas e cimétricas mechas.
Um flash, e ambos estavam apenas de roupas íntimas. Eu não consegui ver em que lugar a mão dela estava, mas eu consegui ver as dele, ambas, em lugares que dão o primeiro passo ao grande pecado. Ele dá passos para frente, a empurrando com o próprio corpo, o sorriso dele, tão delicioso, tão malicioso, sinto que ele sabe que estou aqui, apenas observando. E então, ela cai no colchão, a cama, já estava desarrumada, aquela não era a primeira do dia, nem da noite. Ela se deita, ajeitando-se e lentamente, abre as pernas, um espaço enorme entre elas, enquanto ele se encaixa entre. Posso vê-lo tocando-a, posso vê-lo lambendo-a, posso vê-lo.
BAC! Mais uma vez, vejo meu corpo deitado no sofá, tão trêmulo. Repito, eu aceitei mesmo essas condições? Pois bem. Eu as aceitei, li o contrato, inteiro, todas as entrelinhas e letras minúsculas que diziam que eu teria de aceitar, muito mais do que meros pensamentos e cenas imaginárias em minha cabeça. Muito mais do que tormentos noturnos. Eu estava tão suado, mas nem havia percebido, já estava completamente encharcado de qualquer forma. Me encolho, ali deitado mesmo, abraçando meus joelhos e dando alguns trancos naturais com o corpo. O que será que ele está fazendo agora? - Eu sei, mas ele aceitou minha proposta também, de certa maneira, ambos teremos de conviver com isso. Além do mais, eu aceitaria qualquer coisa, qualquer migalha, qualquer crime, para tê-lo em meus braços novamente. Mesmo que ele tenha cheiro de outro sexo, mesmo que ele tenha o gosto de outra pessoa. É ELE. E uma vez, eu disse que jamais desistiria dele. E não vou. Saí correndo, então, disparado para meu quarto, revirei gavetas, arrombei meus armários e consegui achar, a tão desejada, camiseta que havia guardado. Na primeira vez que você veio aqui e fomos para praia. Você reclamou que havia perdido sua camiseta por lá, mas não, a verdade, é que ela está aqui comigo. Eu durmo ao lado dela às vezes, para me dar, ignorante, ingênua e agoniada impressão, de que você está ao meu lado. De que não acordarei mais sozinho. Agarrei a camiseta com minhas unhas, preta, encardida de tanto passar por minhas mãos, a apalpei delicadamente, como se fosse um pedaço de você, o mais precioso, por ser seu, e passei ela por meu rosto, deslizando. Fechei os olhos e me deliciei da sensação. O seu cheiro, como me deixa enlouquecido, entorpecido. Me encostei de costas na parede, deslizei, e me sentei no chão, afagando meu rosto com um pedaço de tecido que fora há muito tempo usado por você, quando você nem sabia que o que eu sentia, não era qualquer coisa. Forcei os olhos fechados e soube que ali, naquela mesma posição, com aquele mesmo pano, com aquele mesmo rosto, eu te esperaria, eu te esperaria para sempre.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário