segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Três dias. Os três dias mais longos e difíceis de toda a minha vida. Tudo o que é funesto se prolonga, estende-se, estende-se e estende-se até que se torna uma verdadeira tortura. Foram três dias, três dias para testar minha força, seja de vontade ou não. Três dias para ter certeza de algo, para pisar em meu orgulho. Três dias para provar à mim mesma que não há redenção, regresso ou arrependimento em meus atos. Três dias para me mostrar indomável, impenetrável, rijo, valente. Viva. O que machuca se estica para que a dor venha em etapas, aos poucos, para que seja crescente. Estende-se, estende-se e estende-se. Até você se deixar dominar por tal. Estávamos armados. A munição era ordinária, usamos as palavras como armas. Na arma dele, cinco balas; na minha, apenas uma. A luta não foi justa para mim; mas o que diabos é justo, afinal? Ele tinha mais motivos para atirar do que eu, estava carregada por ele ter razão, por ele estar certo. Mas ele não estava premeditando algo: A única bala que eu tinha, estava embebida de raiva, orgulho e. Sofrimento. Um tiro em minha perna, um tiro em meu coração, um tiro em meu ombro e o último disparo que não me atingiu. "Atire!", eu disse quando percebi que só restava um. "Vamos lá! Atire!", eu gritei. Ele se recusou. Eu arremecei a minha arma para longe; se fosse para ser injusto, que fosse completamente injusto. Caí sobre meus joelhos, abri meus braços e lancei meus olhos aos dele de forma robusta. Eu estava enlamado de sangue, minha alma estava ferida o suficiente para escorrer por meu corpo. "Atire, seu filho da puta! Acabe logo com isso, atire!". Senti a arma ser conduzida por uma mão trêmula e fraca até minha têmpora. Eu ri, ri, da forma mais mórbida, doentia e atuada, eu ri. Atire, atire, atire! Ah, não. Ele não disparou. Ele se ajoelhou em frente ao meu corpo, ele largou a arma e. Silêncio. Atrás de mim, a porta encontrava-se aberta; a luz penetrava pela janela, a única, só porque a lua insistia em invadir; naquela noite, ela não havia sido convidada. O ar estava pesado, respirar machucava, meu coração me machucava, o olhar dele me machucava. Por que ele não atirou? A aliança pressionava meu dedo, acho que queria arrancá-lo de minha mão. Desculpe-me, mas não posso ficar mais ferido do que já estou. Ou posso? E mesmo com cada palavra, cada mentira, cada ofensa, cada sentimento sufocante... Nada, nem aglomerando tudo, nada conseguiu ser maior. Perante aquela cena, acabamos por nos lembrar da única coisa que nos preservava ali. "Me abrace e diga que não vai"... Nos incorporamos, sendo nós dois apenas um mais uma vez. O sangue se converteu em lágrimas, o frio se transfigurou à calor e nós nos redimimos em um único sentimento, o único que, na realidade, nos fez atirarmos. O único que nos mantêm intactos. A única merda nesse mundo inteiro que faz sentido para mim; a única merda nessa porra de mundo. A única merda que me fez abraçá-lo e dizer "eu nunca vou te deixar", porque eu nunca irei. Você sabe o que é isso? Voce sabe o que nos obriga à largar as armas? Você compreende? Isso é amor. É amor. É eterno. É incompreensível. Cicatrizar, se levantar, respirar, aprender e amar. Há mais do que carne aqui. Há mais... Não importa quantos tiros eu leve, eu continuarei aqui. Esfregando na sua cara que nada pode abalar meu legado, eu não preciso de você, eu não preciso de nada, apenas silêncio e a razão pela qual eu vivo. Sei que você torceu para que ele desse o último tiro, mas cale a sua prepotência, cale seu pensamento, isso só acaba quando eu permitir. Até lá, vou ser baleado algumas vezes, vou deixar com que me vejam como um tapete persa, vou consentir facadas, vou permitir que me usem como uma forca. Vou me calar e nunca verbalizar uma mísera queixa sobre os abusos e descartes. Acredite, a submissão, a indiferença e a dedicação são mais fortes, mais ofensivas do que qualquer reinvidicação. Não há mais tiros, não há mais tiroteios, apenas um casamento, um setembro e amor. Mas me diga, por que raios tem uma arma apontando para minha testa agora? Meu nome não é mais Alexandra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário