terça-feira, 6 de abril de 2010

Sua sorte.

A: “Tinha tanto pra falar, passei dias na frente do espelho ensaiando como agir e quando a noite chegava eu simplesmente me esquecia de dormir – a insônia era dominante e o pensamento não queria uma pausa. Mesmo sem pausar, fechava meus olhos para imaginar como seria o exato momento de falar tudo que pensei e ensaiei; ficava ali imóvel e envolvida por um escuro ora aconchegante, ora desesperante.


Uma cena repetida dentro de uma mente vazia, cena essa que presenciei dias atrás e não fui uma mera coadjuvante. Minha sorte havia entrado em férias naquele dia, deixando-me sozinha e completamente indefesa; fui a protagonista da cena e consegui machucar alguém -pelo qual tenho apreço. No dia achei que logo tudo passaria e voltaria ao normal caso eu virasse as costas e simplesmente fosse embora, não sei porque diabos fui pensar assim -deve ter sido porque me machuquei também.

O fato é que a coragem resolveu me visitar, sendo assim, chegou a hora de te falar tudo aquilo que estava engasgado na minha garganta descubro que o medo e a incerteza resolveram acompanhar-me, mas a coragem está andando de mãos dadas comigo. Tu chegou, todos estão aqui, posso começar a falar…

Minhas falas deram lugar às reticências e tudo que consegui dizer foi um ‘Me desculpa’, meu pensamento chegou a entrar em colapso. Tinha tanto à dizer, ensaiei durante dias, e tudo o que consegui dizer foi aquilo? Duas palavras, nada mais. Queria dar um jeito de cuspir mais palavras, e nada. A certeza chegou, tu me acharia uma boba sem palavras…

‘Desculpa’. Eu ensaiei mais de mil palavras, até decorei algumas frases de efeitos para ganhar sua desculpa e na hora só conseguir dizer duas palavras, agora estou esperando tu dizer que volta pra minha vida, é isso. Sorte, voltou das férias na hora certa.”


B: “Você demorou dias para vir ao meu encontro, decorou mais de mil falas e eu só queria ouvir duas palavras. Desculpo você, porque sei que um dia vou estar no seu lugar…Você foi protagonista na cena uma vez, e reclamou pois foi falta de sorte -infelizmente, agora seja o coadjuvante. Você dispensou a sua sorte quando virou as costas sem pensar, ela não tirou férias porque quis.”

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