Pálpebras magneticamente atraídas uma pela outra, hermeticamente cerradas. Cílios são heras que se entrelaçam em postes de um velho jardim abandonado. Acordo, apesar de ainda estar dormindo. Contrariada, abro os olhos, mesmo com todo o universo ao meu redor conspirando para que eles se mantivessem fechados. E o sol, só de raiva, resolveu colorir todo e qualquer grão de poeira com o mais cruel dos amarelos, daqueles que te envergonham por ainda estar dormindo numa tão-bela manhã de Quinta-feira. Esse amarelo te fura os olhos e te faz ver que nem sempre é bom implorar pra que a chuva acabe. Tudo que eu queria era novamente mergulhar em lençóis, fronhas e travesseiros do mais branco algodão, e voltar ao meu sonho do exato momento em que parei.
Momento sublime em que vi meu corpo desaparecer em fibras, não mais senti nada além de sangue fluindo por minhas veias e o toque frio das tuas mãos. E foi assim que, como água da chuva que preenche frestas e sulcos do chão a ela exposto, segui meus instintos que apontavam para uma cozinha que era um retrato-falado da desordem. Não havia nada lá, além de fantasmas que sorriam.
Oitenta passos até o posto-shopping-center. Nem toda água potável do mundo seria capaz de matar minha sede. Estava de ressaca.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
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