O vento que batia no topo das árvores ditavam uma só melodia, uma melodia simples, calma, manhosa, quase uma canção de ninar para mim. Mas os ventos não vinham calmos como sua canção reproduzida, eram fortes como os ventos de outonos, mas eles não me alcançavam, eu ainda estava muito perto do chão. A chuva estava para chegar, eu já a sentia, fina, tocando minha testa, então vesti meu sobretudo com capuz vermelho, cujo eu havia achado dentro de uma caixa de presente deixado a minha porta com o seguinte bilhete: 'encontre me a meia-noite, embaixo da copa das jovens cerejeiras.'
Na minha quase pontualidade britânica, eram 23:50 eu estava embaixo das cerejeiras jovens como foi dito no bilhete com o sobretudo vermelho que batia até o chão me cobrindo por inteira e me destacava em meio aquela pequena floresta situada perto da nossa cidade interiorana. Eu estava me perguntando se meus pais iriam acordar no meio da noite e dar por minha falta, mas essa dúvida logo era esquecida a cada vez que eu olhava o relógio e parecia que os minutos aumentaram e ele ainda não havia chegado. Eu mexia com meus pés, sujando as laterais das sapatilhas que eu havia colocado, sapatilhas vermelhas com bolinhas brancas, justamente para combinar com o sobretudo que eu devia usar. Eu não sabia por que o sobretudo ou por que de ser meia noite, só sabia o porque de ser ali.
Aos pés das cerejeiras foi dado o nosso primeiro beijo, nunca senti beijos tão doces quanto aqueles, tão delicados e generosos que apenas uma pessoa poderia ter. Só ele poderia ter.
Olhei o relógio mais uma vez e já marcava 00:01, meu coração disparou, já era meia-noite, estava pra chegar a hora que eu iria o ver. A melodia do vento mudou, tornou-se mais doce, como sua força se tornou mais fraca, mesmo quando vi alguém chegar correndo, levantando folhas secas do chão, refletindo a luz do luar até chegar a mim, prendendo o meu folêgo na medida que ele recuperava o dele.
Ele retirou o capuz de minha cabeça, revelando meu rosto para ele, eu havia colocado um laço também vermelho, combinando tudo como manda o figurino. Ele sorriu, não sei se foi de satisfação, só sei que sorriu.
As mãos deles estavam quentes, assim meu corpo também, apesar de ser uma madrugada de final de outono, meu coração bombeava mais sangue quando estava perto dele do que o normal, fazendo meu corpo esquentar, minha pressão aumentar, minha adrenalina percorrer, não sei bem porque isso acontecia, mas acontecia, eu sabia que tinha uma razão, uma única razão.
Ele encostou a sua testa a minha e selou nossos lábios, como da primeira vez que nos apaixonamos, definitimavente paixão ao primeiro beijo, exatamente igual. Eu usava um sobretudo vermelho, meia noite, cerejeiras.
Coloquei minha mão sobre a dele e acariciei timidamente. Um tanto curiosa perguntei docemente a ele.
- Por que me chamou aqui?
-
Eu queria lhe mostrar que a cada dia que você estiver ao meu lado será perfeito, tal como foi o nosso primeiro.
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