Eu estou aqui, estou aqui. E estou bem, sim estou bem, regularmente bem. Infelizmente eu acabo ficando bem legal mesmo, observando a natureza se mover enquanto o carro anda. A coisa toda funciona melhor aqui dentro, no meu cérebro. Consigo compreender todas minhas teorias, pensamentos, sentimentos. Externalizar é um erro, é, é um erro. Eu estou exatamente aqui agora, não há meios para fugir disso, daqui e nem de nada. Sou apenas muito novo para o mundo e eu estou aqui.
Parada e prostrada, como um cigarro no cinzeiro, este sendo corroído pelo fogo como nosso coração é corroído pela dor. Mas eu não sinto nada, acho que tô muito bem sim e não posso mudar isso. Se você ver por um lado, eu ainda posso ouvir minhas músicas, engolir the gazeetE e Alice Nine e cantar com Neon Boys enquanto o Stiv Bators grita aquelas coisas que parecem agora antigas no Dead Boys. É, eu acho que me sinto muito velha mesmo, mas veja bem, eu ouço música e eu posso ver. Posso andar e posso viver ainda, porque não tenho defeito físico nenhum, e nem tenho nada amputado. Sou perfeita para com os outros então eu acho que tá tudo muito bem sim.
Se o problema maior fosse minha falta de compreensão, talvez eu estivesse melhor, mas pense bem, eu tô entendendo meus sentimentos, assim, bem tenuemente mas estou. Olha só para mim, eu tô crescendo e estou me aceitando, mesmo que eu ache que as coisas não podem mudar tanto para mim - porque olha, se eu ficar mais inteligente, acho que fico muito chata. Mais do que sou. Esses dias mesmo tudo muito bem, mesmo terminando uma amizade de um ano e meio e todas essas coisas que deixa qualquer humano cansado e gasto, eu fiquei pensando em mim e todo o meu desejo de ser alguém e toda minha certeza de saber o que eu ia fazer no futuro se esvaiu.
Queria mesmo ficar escrevendo só escrevendo e nem precisaria de muito dinheiro, só queria comida e apartamento, e meus livros eu dava um jeito. Outra coisa que percebi nesses dias infinitos é que sinto muita saudade da época em que o pessoal gostava de mim e eu não gostava de ninguém, porque eu não sofria de forma alguma, e nem ficava com dor na alma se machucasse alguém. Agora eu tenho duas dores e elas duas são meio absurdas. Eu ainda acho as pessoas nojentas e tudo, e socializar me dá um certo asco, mas sociedade as vezes é tão necessário quanto uma cagada no fim do dia.
A gente acorda e mija e tudo e é como se a gente acordasse e tivesse que de alguma forma sacrificar, ou seja, socializar. O pessoal todo ainda é muito burro e tudo, no duro, mas a gente acaba tendo que se esforçar para não morrer que nem Greta Garbo. Mas eu nem queria um sucesso assim momentâneo, e eu sei Warhol previu que no futuro todo mundo ia ter 10 minutos de fama, mas para mim 10 minutos é pouco. Dez minutos é o tempo da minha cagada e nem disso eu posso me desapegar. Eu só ando vomitando para caralho por causa do mundo, mas nem faço nada para ele. Eu vivo numa inércia horrível, uma preguiça maldita, uma falta de tempo esquisita.
Eu nem posso fazer muita coisa, mas aí eu dou graças a deus que ainda tenho audição e fico ouvindo música e dou graças a deus que ainda posso enxergar e vou ler o Charlie Bukoswki ou fico deliciada com ensaios de arte moderna ou fico extasiada com Baudelaire e todos esses caras que escreveram melhor que eu e fico pensando que eu sou uma puta de uma guria fodida, que penso que algum dia seria uma escritora famosa, ou que algum dia eu ganharia dinheiro com isso.
Eu sei muito bem que eu já tinha aceitado essa coisa toda e tava bem com a faculdade mas não sei, há algo no mundo que me incomoda mais do que o fato de viver; mas para falar a verdade eu tô muito bem sim, eu estou aqui não posso mudar isso e nem posso fugir e para falar a verdade nem quero beber ou foder ou sei lá
Para falar a verdade eu tô bem na minha e socializar é só uma parte do progresso.
Vai ver eu tô bem assim.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
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