quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Todo membro de meu corpo tem ocupado uma função específica, como um emprego comum, mas não há mais férias para eles, não há intervalos. Apenas o trabalho árduo, devorando-os. Exaustos, eles começam à pesar e extraem-me o desejo do movimento. Todos esses membros pesados, esforçados, estão retirando-me as forças e até mesmo algo que antes, eu sempre mantinha comigo: A vontade de viver.
Meus olhos, rodeados pelo pigmento doente que é o roxo das olheiras, tão desgastados pela falta de sono, tão desgastados pelas marés de lágrimas que insistiam em inundá-los. E essa este seu trabalho; ver atrocidades, ler, acompanhar a comoção e bem, alagar-se. Minhas mãos são dignas de um bom bocado de dó, sempre trêmulas, sempre suadas, sempre frias. Entre o dedo do meio e o indicador, sempre um cigarro. Em algumas vezes, descobri as pontas de meus dedos apalpando meu próprio rosto, aposto que queriam checar se eu ainda era carne. Outras vezes, flagrei a palma pousando-se em meu peito, na intenção de sentir meu coração; ele ainda batia, com dificuldade, mas batia. Acho que é ele - o coração - o órgão mais pesado de todos. Ele batia com sofrimento. Com cada palpitação, um urro de dor. Pobre seja meu coração. Não fora apenas pisoteado, espancado, esfaqueado. O que seria do amor sem a dor afinal? Quem me dera meu coração ter levado apenas algumas pancadas, como muitas das quais ele recebera antes. Foi pior, foi. Desumano, fatídico. Maior que a dor de algumas agressões, fora a dor do descaso. Meu coração foi descartado, desprezado e isso, isso sim deixou grandes feridas. Ferimentos que jamais cicatrizarão. E então, agora meu aniquilado coração só ocupa um cargo: Me manter vivo. Não quero aparentar ser mal agradecida nem nada, mas o trabalho dele é o pior de todos, é o que me traz mais descontentamento. A vil função de bater, desgostosamente e obrigatoriamente, trabalho forçado, é um escravo, espalhando sangue pelo restante. Apenas isso. Lábios secos, há alguns cortes. Queria eu terem sido causados por outra pessoa. Por infortúnio, foram causados por mim, por ansiedade e uma enorme aflição. Estavam sempre fechados; um espaço se abria vez por outra, para algum suspiro desafortunado. Nada de palavras, somente suspiros. A função leve e agônica de suspirar e a eterna espera pelo que dizer. Cada um com sua função. Meus ombros devem carregar o peso da culpa que, na verdade, não é minha; é a culpa de todos ao meu redor, descansando em meus ombros. Meus pés tentavam sustentar todo esse peso, era penoso, mas eles tentavam, dedicados. Eles falhavam constantemente, e era aí que meus joelhos estavam. Eles suportavam todos os impactos, cada queda, sem reclamar e eram meu apoio. Nunca os ouvir reclamar, ao menos. Acho que nem conseguiria, meus ouvidos não estavam apenas irritados, estavam furiosos, com ódio. De quê? Perguntas. Malditas sejam as perguntas. Ainda mais aquelas das quais eu não tenho a resposta. "Quem?", "o que será de nós?", "mas e eu?", "o que vamos fazer?", "ele ou eu?". Pro inferno com isso! Meus ouvidos não aguentam mais, eles gritam "longe de mim, pontos de interrogação estúpidos!". Tudo seria diferente para eles se... Se aqueles caras não fossem tão egoístas. Entre todas essas perguntas - que por sinal, são repetitivas e insistentes - não há uma santa pergunta que, de fato, me envolva. A preocupação comigo é notável. "Você está bem?", "está feliz por tudo isso?", "você quer escolher?", "o que você quer fazer?", "você precisa de algo?", "o que está sentindo?"... Não, nada disso. Ninguém pergunta tais, porque ninguém se importa. Não há uma resposta se não há uma pergunta. Conseqüentemente, deixo tudo para mim, acumulando mais peso para meus membros, dando mais trabalho aos mesmos. Não estou bem, não estou feliz, não quero escolher, quero morrer, preciso de tempo, preciso de descanso, não... Não sinto coisa alguma. Ninguém perguntou, ninguém perguntará, pelo simples fato de ninguém se importar.
Olhos, parem de chorar; mãos, parem de tremer; boca, pare de esperar; ombros, parem de carregar a culpa; pés, se deixem cair; joelhos, suportem uma última vez; ouvidos, parem de ouvir e eu suplico, eu imploro... Coração, pare de bater. (17th, Outobro).

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