quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Quero lembrar de lembrar-me de esquecerQuero lembrar de lembrar-me de esquecer que esqueceu-me.

Abro este caderno com pena em mãos, na esperança de encontrar palavras que possam descrever meu estado de espírito; mas tudo que encontro é uma antiga carta tua, que me diz o oposto de tudo aquilo que sinto. Aquela que dizia, em bonitos versos (métricos, lógicos) e palavras ainda mais belas que me faziam cair em devaneios e ilusões, que tudo iria durar. Palavras que pareciam plausíveis na época mas que o tempo, insensível, provou-as erradas. Palavras que só me trazem lembranças (irracionais).
Suas fotografias amarelam em um pequeno baú debaixo de minha cama. Seus livros se mancham na estante. Seus discos se quebram na minha parede."É você que quero ver antes de dormir e assim que acordar".
Tudo que vejo, ao acordar, é um velho travesseiro roto, que a muito tempo, mais do que eu poderia querer lembrar, se tornou desconfortável demais para meu pescoço. Ele se tornou roto, velho e desconfortável assim como tudo que me lembra você. Adequado.
E tudo que vejo ao ir dormir é a escuridão plena, com o silêncio que me sufoca, não mais interrompido pela sua, que eu espero eternamente, risada. Me sufoca como suas lembranças sufocam-me o peito.

Abro minha janela na esperança de te ver passar, mas te vejo no rosto de todas.

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