quarta-feira, 10 de março de 2010

Eu me acostumei a embalar meus sonhos na profundidade da tua respiração, a acordar com o mais leve dos suspiros que me era trazido aos ouvidos. Acostumei-me a esperar teu retorno de uma cidade ou outra, acordada pela ansiedade de qualquer ruído ecoando junto ao corredor. Não fosse você, eu respiraria aliviada por estar fechando a porta da frente.
Mas hoje é tão estranhamente real a rapidez com que, ao girar a chave, eu posso abraçar esse imenso vazio. Ninguém entende, eu sei. Nem mesmo eu, tão sentimentalmente racional, consigo fazê-lo. A todo momento dou de cara com aquilo por que sempre esperei: Ser absolutamente vulnerável a presença ou ausência de alguém.

Muitos poetas nos avisaram sobre a dor de amor e hoje, além de lhes dar toda razão, ofereço-me como parte integrante deste mesmo estudo de caso.

É quando se está feliz que se quer saber como estão aqueles à sua volta. É só assim que se pára pra ouvir de verdade, sem apenas estar procurando por brechas que o deixem se lamentar. É estando radiante que você tem a sensibilidade de perceber que todo mundo está fodido mesmo. Emprego, faculdade, relacionamento pessoal. É uma vastidão de descontentamento que se assimila ao caráter viral. Por isso que se faz de tudo pra que pessoas negativas sejam mantidas bem longe, atrás daquele frasco gigante dentro da gaveta que você raramente abrirá. Quem é que quer dividir conquistas com quem já perdeu o entusiasmo da perspectiva? quem é que quer realizar sonhos ao lado de quem não sabe voar?

A verdade é que o que mais faz falta não é chegar em casa e poder dividir o seu dia com alguém, é ter certeza de que esse alguém fez parte inconsciente de cada minuto sem nem sequer ter estado lá.

Dentre o leque de opções às vezes simplesmente não existe a correta.
Existe unicamente uma escolha que tornará a outra uma realidade improvável, quem sabe, até inviável.
Como teria sido se…? Essa é uma pergunta bastante reincidente na minha oblíqua estrada.

Fiz contagem regressiva. Inúmeras vezes, aliás. Riscava o calendário contando quantos dias faltavam para O GRANDE DIA. Sorrateiramente ele se aproximava, cada vez mais. Chegou mais tranquilo com a ajuda do ansiolítico da noite anterior. Frio na barriga e uma sucessão de minutos intermiáveis.

Assim, meio sem ver, passei por ele como quem engole com pressa aquela primeira garfada da comida quente demais. O grande dia acabou se tornando nada mais do que uma menção simbólica, porque de grande não teve. Eu que pensei que fosse saltar capítos à frente, que fosse mudar, que fosse me ver mudar, que assim acompanhasse a expressão dos olhares direcionados à mim mudarem também. Não.

Eu que quis recomeçar. Agora me faltam subterfúgios.

A vontade nunca foi a de ser uma unanimidade, aliás, deve ser entediante sê-la. Sempre fui um pouco audaciosa, um pouco diferente, um pouco apontada, um pouco falada. Tantos poucos que, inevitavelmente, acabaram por me tornar também um pouco polêmica.

Existem vezes em que tenho o ímpeto de gritar mais alto contra aquilo que ouço, outras em que me restrinjo à mudez inconformada. Posso correr pra longe mesmo que respeitando a retidão das linhas, dos pensamentos, das crenças e não importa o esforço para não pisar fora do espaço tracejado, ninguém faz questão de admitir enxergá-lo. Aos olhos dos outros as atitudes são uma constante insuficiência, a assinatura dos documentos está sempre a passar da validade e cabe às palavras se perderem em algum lugar do espaço.

Sempre fui um pouco pré-julgada.

O esforço, a vontade ou o merecimento, pouco valem. A gente não consegue fugir do que é, nem do que disperta espontâneamente – ou não! – na sentença dos outros. Seja ela justa ou nem tanto. E sabe o que? O tempo ensina a lidar com essa circunstância e a matar a sede de querer mudá-la a qualquer custo.

Sou um divisor de águas. Duvido do dia em que entrarei em algum pedaço desse mundo, irei me deparar com mais uma pequena fração dentre o grupo de 6 bilhões de habitantes e não dividirei as mais opostas opiniões.

Mas eu? Eu sempre fui infinitamente mais exigente do que a banca julgadora.

Existe alguma incoerência ao se pensar que não é preciso de muito para mudar drasticamente o curso da vida? Se sim, pára tudo que eu estou prestes a começar uma linha de raciocínio que não fará sentido algum.

Pra vocês.

Quando parece que nada mais tá certo, nada mais dá certo. Antigos prazeres não convencem mais, a carapaça desaprende a proteger, esconderijos secretos não aquietam. Ou você ficará menstruada dentro de poucos dias, ou então realmente te falta o ingrediente responsável pelo reestabelecimento do equilíbrio cotidiano. Às vezes uma pitada de sal resolve, outras exigem uma receita toda nova.

O que eu posso dizer é que o 180º apontou pra novos e inexplorados caminhos, há quase um ano. Quando você descobre que o frio no estômago não é somente proporcional ao medo, mas sim ao quanto realmente almeja-se determinada coisa, é porque é findada a busca.

O primeiro passo dado na direção certa abre precedente pros demais, que se tornam mera consequência. Toma impulso. O que faz a diferença é não hesitar.

De um modo bem abrangente, pessoas estão quase sempre falado a respeito de seus próprios calos. É como se interpretassem o que veem refletido no espelho e até o ato de se dirigirem a outrem exalta egoísmo. Ainda não sabem que a maldade intencional não exerce influência à quem é dirigida, porque nada mais é do que autobiografia barata. Abre-se mão do escudo, empunha-se uma arma pérfida e se dá a chance para que o militante então descubra a sua fragilidade. A contusão pode até vir pelas costas, mas a maneira como somos golpeados não deixa dúvidas… Sempre sabemos de onde provém os disparos.

Ter um bom motivo, além de todo o restante a seu favor e, ainda sim, não querer travar batalha, pra mim, é um sinal de nobreza.
, mesmo que muitos não saibam exatamente como defendê-las.
Mesmo que nem todas elas sejam merecedoras de alguma relevância.
Mesmo que mudemos de idéia vez ou outra.

Já que falei sobre pretensão, a minha é só escrever.

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