quarta-feira, 10 de março de 2010

Polar Opposites (Positive/Negative)

Bebi-lhe o beijo. O gosto do vinho barato não me agradava.
- Eu só bebi um pouco - disse ela ao perceber o meu olhar de reprovação.
Eu a amo mais quando está sóbria. Estava cansada, queria apenas deitar e dormir, mas sua respiração fraca me preocupava. Eu a deitava na cama e ela parecia quase cochilar; eu estava completamente acordada. Tinha raiva, mas meu sub-consciente me mantinha acordada, eu sabia no fundo que precisava olhar por ela, cuidar dela como um pai cuida de um filho inconsequente. Tinha raiva dela por beber, tinha raiva de mim por trair meus instintos.
- Eu te amo - Ela me olhava com olhos ébrios e os fechava lentamente, se ajeitando confortavelmente no travesseiro. Eu via uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Ela sabia. Ela sabia que eu precisava ir e deixá-la. Por isso havia saído do trabalho mais cedo e ido direto para o bar, por isso chegou me dando abraços fortes e beijos bêbados. Seu costume de se embriagar para não precisar enfrentar a realidade já era conhecido por mim.
Eu sentia um aperto no coração enquanto girava a chave da porta. O mesmo aperto no coração que sentia quando me sentia abandonada por alguém que eu amava. O aperto no coração que ninguém deve sentir, e entretanto, eu a faria sentir um pior, e sabia disso. Me via no lugar dela, acordando e não vendo-a do meu lado. Eu a amava. Ela sabia.

Eu queria poder cuidar dela o resto de minha vida, fazer com que essa vida orbitasse em torno de sua felicidade, saindo dos eixos sempre que ela derramasse uma lágrima, explodindo sobre si mesma sempre que ela se sentisse mal, insegura, por qualquer motivo que fosse; mas eu não poderia cuidar dela da maneira que ela precisava, e é por isso que eu a deixava; todo o meu amor não seria capaz de preenchê-la, não com a minha confusão e melancolia ocupando todo o espaço do meu ser, transbordando e ocupando o espaço que era reservado ao meu amor, nela.
- Aonde está indo? - Eu sentia seu olhar quente na minha nuca, sua voz penetrava meus ouvidos. Subitamente me sentia mal, queria voltar pra cama, abraçá-la e prometer que nunca a deixaria. Abri a porta.
- Comprar cigarros. Os meus acabaram - Havia um maço no criado-mudo. Ela sabia. Eu poderia ter inventado mil e uma mentiras em que ela poderia facilmente acreditar, mas eu queria que ela soubesse, e ela sabia.
- Volte logo, meu amor - Novamente me sentia mal, eu não estava fazendo nada reprovável, mas a imagem de ela longe de mim por toda a minha vida me enauseava, mas eu precisava fazer isso.
Fechava a porta atrás de mim e quase instantaneamente a ouvia começar a chorar. Nesse momento eu gostaria de morrer; mas eu precisava ir.
- Você vai ficar bem - E essa foi a última vez que a vi. A última vez que amei.

Você vai ficar bem, meu amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário